Apresentação
O Projeto África e suas Africanidades entre gregos e romanos mobiliza temas provenientes da documentação textual e imagética incluídos em tópicos provenientes das realezas palacianas africanas e seus contatos com gregos e romanos como a fundação da cidade grega de Naucratis no Egito, comercio dos gregos e romanos na região da Nubia e de Kush assim como o embate, entre as mulheres guerreiras, as Candaces e a legião romana de Otavio Augusto. A materialidade do contato se faz presente através de vasos de cerâmica áticas (alabastro, januform) e afrescos romanos, (mosaicos e afrescos) que destacam a representação da população de pele preta ao lado de caucasianos, fato que dificulta afirmar a existência de racismo no mundo antigo. Nas disciplinas acima citadas apresentamos a atuação dos faraós negros da Nubia que governaram o Egito, as mulheres guerreiras, as Candaces que venceram a legião romano de Otavio Augusto assim como a herança técnico-cultural como o conceito de
isegoria e isonomia, de técnica de fundição do ferro/ouro que a África passou ao mundo
ocidental. Consideramos que, nós brasileiros, podemos democratizar a educação a partir da compreensão de que a sociedade brasileira é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos e através da disciplina de História Antiga, ministrada no primeiro periodo, podemos mobilizar a reflexão de como integrar todos que nela convivem.
O Projeto África e suas Africanidades entre gregos e romanos já vem sendo mobilizados junto a disciplina de graduação de História e de Arqueologia da UERJ, tanto na graduação como no curso de Especialização/CEHAM quanto na pós-graduação PPGH/UERJ, fato que demonstra a expertise do grupo de pesquisa em mobilizar o tema. Considero que nós, historiadores, temos o compromisso de participar da formação de cidadãos críticos por meio da democratização do saber produzido na Academia, assim como devemos ratificar a nossa responsabilidade em incentivar pesquisas sobre a africanidade. O tema transita pela atualidade, suscita questões e debates, e permite trazer a história da antiguidade africana como tema de pesquisa na área da disciplina de História Antiga como História Antiga da África no mesmo patamar que a História Antiga Grega e a História Antiga Romana ministradas em sala de aula. Nossa proposta tem sido construir um olhar alternativo afastado da narrativa eurocêntrica hegemônica, repleto de preconceito sobre o continente africano, considerado uma sociedade primitiva sem escrita, sem passado e sem história. Temos por meta analisar a História da África e dos africanos e seus contatos fora do estereótipo da escravidão, doenças e miséria como algo permanente e imutável através do tempo. A partir dessas constatações que o Núcleo de Estudos da Antiguidade/NEA/UERJ participa da responsabilidade e compromisso com a formação de cidadãos atuantes através da democratização do saber sobre o tema africanidade e seus contatos.
O projeto integra o convenio internacional realizado com o IPSN/Instituto Politécnico Sol Nascente, Huambo/Angola nº SEI 260007/019942/2021 (DOERJ nª 061, 18/03/22) com o NEA/UERJ cujo gestores detem interesse em intercâmbios acadêmicos entre professores e estudantes que pesquisam os temas relacionados a proposta do projeto. A proposta do projeto se destina a democratização do saber produzido na academia, o público-alvo: alunos de graduação, professores do ensino fundamental e médio e o público interessados que estão fora do meio universitário (atendidos através de cursos de extensão e palestras).
Fundamentação Teórica
Partimos do princípio de que as sociedades helênicas e romanas podem ser pensada em termos de conectividade próximas e distantes. Os conceitos da Social Network Theory, traduzida por nós como Teoria da Conectividade Social, detêm como abordagem teórica a capacidade de aplicação em História Antiga como nos aponta Irad Malkin na obra A Small Greek World: Networks in the Ancinet Mediterranean (2011) teoria aplicada pelos pesquisadores Anna Collar e Christy Constantakopolou, pois a rede de conectividade marítima fomentou a mobilização de atenienses, gregos e não gregos e romanos em direção ao Mar Mediterrâneo desde o período da realeza palaciana. Este grupo de identidade diversa compartilhou de um interesse comum ao demarcar os pontos de conectividade (apoikia, empória, cleuruquias) junto ao litoral do Mar Egeu, Mediterrâneo e do Mar Negro, mantiveram intercâmbios culturais e comerciais com as sociedades africanas. Intelectuais gregos como Sólon, Heródoto e Platão mantiveram trocas socioculturais com os africanos que viviam as margens do rio Nilo assim como os historiadores do Imperio Romano: Dion Cassius, Estrabão e Plinio, o Velho. No estudo da antiguidade grega e romana nas últimas décadas tem predominado a abordagem sobre polis e temas relacionados como a polaridade da relação estrutural definidas entre cidadão versus estrangeiros, homem versus mulher, cidadão livre versus escravo e a celebre relação binaria de oposição entre gregos e bárbaros ao qual foram incluídos os romanos e os africanos. No lugar da análise a partir do conceito de dominante e dominado ou da relação centro e periferia, nos aproximamos de uma vertente alternativa que traz à reflexão sobre o contato relacional, de convivência negociada e compartilhada que fomentam a ação de reciprocidade, do dom e contra dom entre gregos, romanos e africanos na antiguidade.
Objetivos
- Construir discursos alternativos sobre a História da África Antiga afastados das narrativas que apontam apenas as mazelas das doenças, das guerras, do primitivismo e da escravidão comumente abordados pelos livros didáticos, jornais e filmes;
- Estabelecer diálogos com a Arqueologia visando reconstruir um catálogo de vasos gregos (os alabastros e os januform) e afrescos e mosaicos romanos aos quais despontam a presenta interativa entre gregos, romanos e africanos com os seus impérios, suas rotas de comércio e contatos culturais;
- Valorizar os legados culturais africanos compartilhados pelos europeus e brasileiros que, de formas diversas como a ideia de isegoria e isonomia, fundição de metais, construção de fornos e a mitologia das quais somos demarcadamente herdeiros;
- Aplicar os recursos metodológicos da grade de análise do conteúdo aplicada na documentação textual e a grade da semiótica da imagem (Claude Berard/Martine Joly) aplicada na documentação imagética para demarcar o imaginário social sobre a população africana proveniente da documentação antiga grega e romana. (metodologia construída por nós do NEA para atender a documentação textual e imagética)
Justificativa
O NEA define-se como um núcleo de pesquisa que busca realizar ensino de qualidade na área de História Antiga e desenvolve atividades de extensão.A motivação da implementação do projeto foi a de questionar o senso comum que preconizava a impossibilidade de se desenvolver pesquisa em sociedades antigas no Brasil, pois as sociedades sem escrita, de predomínio oral cujos vestígios de sua existência têm por base artefatos ou vestígios arqueológicos, pinturas e afrescos não tinham consistência para o fazer história. Outro pensamento do senso comum e de total ignorância está na afirmação da academia em somente aceitar a produção e realização de História do Brasil e História Política, os demais campos teóricos como história cultural, social, de gênero, de estudo de casos, antropologia histórica, micro-história como área de saber estavam relegadas a posição marginal e que não deveriam ser reconhecidas e nem permitidas a sua entrada na graduação e na pós-graduação da UERJ. A missão da Equipe NEA com implementação do projeto visa ratificar o diálogo com as demais áreas de saber demonstrando a capacidade de seus integrantes em realizar História Antiga de qualidade referentes as sociedades gregas, romanas e africanas em nível de excelência, aplicando conceitos teóricos adequados e uma metodologia análise do discurso e semiótica da imagem que atenda ao objeto de pesquisa. |